sábado, 22 de março de 2025
Tratamento de Ceratocone: opções terapêuticas em 10 anos de follow-up
Ceratocone no Consultório do Porto Canal
sexta-feira, 21 de março de 2025
Sintomas do Queratocone
Numa primeira fase, devido ao formato cónico que o olho adquire, as imagens apresentam-se de uma forma distorcida. Como o seu desenvolvimento está bastante associada ao astigmatismo, e à sua evolução, é comum os pacientes com queratocone terem um aumento progressivo deste defeito refrativo. Assim, muitos dos sintomas iniciais começam por ser os mesmos do astigmatismo: visão desfocada e distorcida, tanto para o perto como para o longe.
É comum também o relato de diplopia (visão dupla) ou poliopia (percepção de várias imagens de um mesmo objeto), como se fossem imagens “fantasmas”, com auréolas em torno das luzes.
Imagem com dois quadrados, um desfocado simulando visão de queratocone
Outros sintomas comuns são a fotofobia (sensibilidade excessiva à luz) e algum comichão, assim como pouca visão noturna.
Tratamento do Queratocone
Para tratar o queratocone existem três métodos diferentes (óculos, lentes de contacto e cirurgia) que irão variar consoante a evolução da própria doença e com vista ao maior conforto e acuidade visual para o paciente:
•Prescrição de Óculos: Numa fase inicial, a prescrição de óculos é o mais aconselhado. Esta solução é viável quando a doença ainda está numa fase inicial e/ou o astigmatismo irregular ainda é relativamente baixo, podendo se alcançar uma boa acuidade visual com o auxílio das lentes oftálmicas.
•Lentes de Contato: Quando o astigmatismo assume valores mais altos, ou quando os óculos deixam de ser tão eficazes, o tratamento seguinte consiste na utilização de lentes de contacto especiais. trata-se de lentes rígidas ou semi-rígidas permeáveis aos gases (RGP) que pretendem corrigir e melhorar a acuidade visual. Pode ler mais sobre este tipo de lentes corretivas no nosso artigo sobre Lentes de contacto.
Operação:
Quando a doença atinge um estado avançado, a cirurgia passa a ser então, a melhor opção. Existem três métodos cirúrgicos para corrigir o queratocone.
Transplante da córnea: Este procedimento cirúrgico, também conhecido como queratoplastia, é bastante comum, seguro e eficaz. Como o nome indica, neste processo é feito um transplante da córnea. Por norma, os resultados deste procedimento cirúrgico são bastante satisfatórios, embora muitas vezes seja necessário continuar a usar óculos.
O olho humano
Curiosidade: Sabia que as córneas dos tubarões são tão similares às humanas, que muitas vezes são usadas neste tipo de cirurgia?
•Implante de Anel Corneano: Em alternativa ao tratamento anterior, os implantes anelares da córnea, ou Intacs, são outra opção. Nesta técnica cirúrgica, ao invés de se implementar a córnea na totalidade, são inseridos uns arcos no rebordo da córnea, que irão empurrar a curvatura da córnea e a alisar o pico do cone, dando uma forma mais “normal” ao olho.
Crooslinking: É um tratamento relativamente novo e é menos agressivo que os tratamentos anteriores. Como uma considerável percentagem de pacientes com queratocone tendem a necessitar de uma nova córnea, esta técnica pretende diminuir esta necessidade, por aumentar a rigidez e a resistência da córnea. Assim, permite que com o passar do tempo, a córnea não se altere, diminuindo por isso os impactos na visão e aumentando a qualidade de vida e de visão do paciente, prevenindo assim a necessidade de um futuro transplante. Esta técnica tem apresentado resultados excelentes.
Se suspeita de que possa ter esta doença ocular, marque uma consulta com o seu oftalmologista, que lhe poderá diagnosticar a doença e aconselhar o melhor tratamento. Para aprofundar o tema, aconselhamos uma visita à página da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia ou da Enciclopédia Livre,
Colírio para tratamento de ceratocone; você já ouviu falar?
A empresa iVeena anunciou no último mês bons resultados no estudo clínico que recentemente completou a fase 1/2a. O estudo duplo cego randomizado em questão é um trial que avalia o colírio IVMED-80 no tratamento do Ceratocone. O objetivo do estudo foi determinar se um curso de 6 ou 16 semanas de uso do colírio 2 vezes ao dia (versus placebo) poderia aplanar a ceratometria máxima (Kmax) e melhorar a melhor acuidade visual corrigida. Além disso foi avaliada a segurança do uso.
O seguimento dos pacientes foi de 6 meses, permitindo assim uma avaliação do impacto da duração do tratamento além da resposta corneana após o término da terapia. 31 pacientes completaram os 6 meses de observação, com quantidade similar de pacientes em cada um dos três braços do estudo. Pacientes do grupo 1 receberam IVMED-80 2 vezes ao dia por 6 semanas e depois foram seguidos por 20 semanas. Pacientes do grupo 2 receberam IVMED-80 por 16 semanas e depois foram seguidos por mais 10 semanas. Pacientes do grupo 3 receberam placebo 2 vezes ao dia por 16 semanas e seguidos por mais 10.
Não existiram diferenças entre demografia, Kmax baseline e características clínicas no baseline entre os grupos dos três braços. Pacientes que receberam 16 semanas de IVMED-80 tiveram os seguintes resultados após 6 meses de acompanhamento:
-Redução da média do Kmax em 1,8 dioptrias (resultado estatisticamente significativo, com p = 0,0199);
-Melhora de 11 letras de visão na melhor visão corrigida se comparando ao baseline;
-Sem eventos adversos relacionados ao tratamento em qualquer um dos braços do estudo;
Segundo a empresa iVeena, esses resultados poderiam sinalizar uma redução mais rápida no Kmax do que as reportadas previamente pelo crosslinking tradicional associado a uma boa tolerância e segurança, porém ainda não temos dados suficientes para essa afirmação. O IVMED-80 é uma droga que regula positivamente a lisil oxidase (LOX) e induz o crosslinking corneano farmacologicamente. O estudo do iVeena entrará em fase 3.
Juliana Rosa
Pós graduação Lato Sensu em Córnea pela UNIFESP ⦁ Especialização em lentes de contato e refração pela UNIFESP ⦁ Residência médica em Oftalmologia pela UERJ ⦁ Graduação em Medicina pela UFRJ ⦁ Contato via Instagram: @julianarosaoftalmologia
Referências bibliográficas:
Molokhia S, Muddana SK, Hauritz H, Qiu Y, Burr M, Chayet A, Ambati BK. IVMED 80 eye drops for treatment of keratoconus in patients -Phase 1/2a. Invest. Ophthalmol. Vis. Sci. 2020;61(7):2587.
https://pebmed.com.br/colirio-para-tratamento-de-ceratocone-voce-ja-ouvir-falar/
Transplante da Córnea
O Transplante de Córnea (Queratoplastia Penetrante ou Lamelar) realiza-se nas situações em que há significativa diminuição da acuidade visual, devido a perda de transparência ou a acentuada irregularidade da superfície corneana.
Queratoplastias Penetrantes
As Queratoplastias Penetrantes consistem na substituição de toda a espessura da Córnea doente pela Córnea de um dador-cadáver. Assim, um botão central, com um diâmetro variável entre 7 e 8 mm, é removido, ficando um anel coreano de 1 a 3 mm no receptor, ao qual é suturado o botão dador, com um diâmetro equivalente.
Como a Córnea é um tecido sem vasos sanguíneos, a sua transplantação não acarreta tantos riscos de rejeição como noutros tecidos ou órgãos, sendo baixa a percentagem de casos de rejeição, variando conforme a patologia que motivou a realização do transplante.
De um modo geral não é necessária a administração de medicamentos imunossupressores sistémicos e, embora a recuperação da visão neste tipo de transplantes demore alguns meses, o resultado é habitualmente satisfatório e duradouro após correção do Astigmatismo residual.
https://www.imo.pt/cirurgias/transplante-da-cornea/?gclid=CjwKCAiA9bmABhBbEiwASb35VwL4jzPL9gTpBoOxB1K7eR96TsYCJP0jeJ3Uw0gPTDb2XVG0erSOtBoC91sQAvD_BwE